Atualizado em 10/11/22 - Escrito por Pedro Parreiras na(s) categoria(s): Lean Manufacturing / Planejamento e Controle da Produção / Produção / Sistema Toyota de Produção
Meu filho mais velho ainda não completou 4 anos, mas já adora super-heróis. Por isso, ultimamente, quando leio, escrevo ou ouço a palavra incrível, não consigo deixar de pensar no Hulk. Não aquele da fatídica seleção de 2014, mas o tradicional dos quadrinhos, filmes e desenhos animados: o Incrível Hulk, verde, enorme, super, hiper, ultra forte e poderoso. Talvez quem não tenha contato com crianças ou não seja fã de quadrinhos já tenha se esquecido do que este super-herói representa, mas acredite, ele é realmente incrível.
O que isso tem a ver com gestão da produção? Bom, eu desenvolvi uma planilha que ajuda a descobrir o impacto da produtividade no lucro, que disponibilizamos no excelente post escrito pelo Rômulo Henrique e que gerou bastante repercussão. O Salim Rodrigues, um de nossos leitores, me enviou um email sugerindo uma análise do impacto da melhor utilização das matérias primas no lucro de uma indústria.
Fiz algumas análises a partir de suas sugestões, só podendo considerar como incríveis os resultados obtidos. E, como disse acima, não pude deixar de me lembrar do super-herói que fica incrivelmente verde e forte quando alguma coisa o incomoda. Até porque, dentro de uma agenda sustentável, que está há alguns anos na ordem do dia, a melhor utilização de materiais é algo que não pode ser ignorado.
Vamos conferir o resultado? Primeiramente, gostaria de citar o email do Salim e adicionar meus comentários às suas excelentes colocações.
“Boa noite,
Thiago Leão,
Perdoe-me por não lhe dar um feedback da planilha antes. A planilha é muito interessante, pois possibilita criar vários cenários alterando a receita da empresa, os custos indiretos fixos, o ganho por hora produtiva e principalmente a produtividade.
Hoje uma empresa que deseja ser competitiva deve ter como meta o aumento da sua produtividade. Uma coisa interessante Thiago Leão que você falou no vídeo é o conceito de Produtividade, o qual você definiu como sendo a capacidade das empresas em produzir e vender mais com os mesmos recursos, ou produção e venda constantes com menos recursos. No vídeo você alterou a produtividade dos turnos, recursos humanos (custo de pessoal) e capacidade dos turnos, e obteve valores interessantes.”
“Faço-lhe uma proposta para alterar também as despesas com matéria-prima, pois essa pode ser inserida como um recurso. Imagina uma empresa que consome 30 m3 de água para abastecer suas diversas áreas e como output 20m3 de efluente. Se desses 20m3 pudessem retornar 15 m3 não ao processo, porém às atividades secundárias que não exigem água de primeira qualidade do processo, você teria uma economia de 75%.”
Neste exemplo, Salim Rodrigues já faz as contas de que com a reutilização dos efluentes é possível economizar 75% de água em processos de uso intensivo deste importante insumo. Hoje mais do que nunca, quando estamos discutindo saídas para a crise hídrica essa economia é fantástica.
“Uma máquina consome 1000 Kg de matéria-prima, como o malte, para produzir 100 m3 de cerveja, produzindo como resíduo 50 Kg de bagaço, nesse caso se você consegue fazer essa máquina consumir a mesma massa de malte para produzir 150 m3 de cerveja, mas gerando como resíduo 10 Kg apenas. Você não teria mais 5% de resíduo gerado, mas 1% apenas.
O que eu quero dizer Thiago é que você poderia mostrar essa possibilidade, um cenário onde a empresa consegue diminuir as despesas com matéria-prima, aproveitando os resíduos gerados no processo, isso faria a empresa comprar menos matéria-prima. Mas sei que as despesas com matéria-prima não causam tanto impacto na economia da empresa quanto aumentar a produtividade, mas é um cenário ou uma possibilidade.
Cordialmente,
Salim Rodrigues”
Já neste exemplo, o nosso leitor mostra que é possível aumentar a produção com a mesma quantidade de matéria prima a partir da geração de menos resíduos. Fazendo uma conta simples, para manter a produção no mesmo nível, conseguiríamos utilizar menos malte: se com 1000 Kg de malte é possível produzir 150 m3 de cerveja, para produzir 100 m3 de cerveja precisamos de 667 Kg de malte, ou uma redução de 33% no consumo de material.
Veja também:
Vimos acima dois exemplos reais citados a partir da experiência profissional do Rodrigues. Antes de calcularmos o impacto da redução do custo de materiais no lucro de uma indústria, gostaria de fazer algumas sugestões e convidar você a fazer um brainstorming com sua equipe, incluindo principalmente o pessoal do chão de fábrica e do almoxarifado para encontrar soluções caseiras de como reduzir os custos de materiais. Provavelmente, você se surpreenderá com as sugestões. Veja abaixo outras recomendações:
Uma recomendação clássica da engenharia de produção para a redução com os custos de materiais, passando pela redução de estoques em processo é a adoção do sistema de produção puxada, elemento fundamental do Just in Time (JIT) do Sistema Toyota de Produção (STP). Apesar de apresentar grandes desafios, a implementação da produção puxada permite entre outros benefícios a redução das perdas relacionadas ao excesso de estoques, levando consequentemente a um menor custo de materiais.
Outra sugestão mais relacionada à minha experiência profissional é a implantação de software de gestão de PCP ou PPCP. A partir do MRP é possível além de trabalhar com níveis de estoques menores, fazer uma programação de compras a partir de uma demanda consolidada, o que permite comprar com antecedência e em quantidades que viabilizem a negociação de melhores preços com o fornecedor. Acreditem ou não, já vi vários casos de indústrias que por falta de uma gestão suportada pelas ferramentas adequadas, precisavam frequentemente comprar de distribuidores que aplicam margens altíssimas materiais que poderiam ser adquiridos diretamente dos fabricantes, pagar frete aéreo, entre outras medidas para não parar a linha de produção ou não atrasar as entregas.
Por fim, gostaria de citar as ferramentas de otimização de utilização de materiais. Tenho visto, principalmente nos setores de confecção e metalomecânico, enormes economias de materiais com a utilização de software para otimizar, respectivamente o corte de tecidos e chapas metálicas. Como isso funciona? Acredito que o caso das confecções seja mais fácil de visualizar para a maioria dos leitores: em uma mesa de corte de tecido, com formato de um retângulo, é necessário extrair peças em diferentes formatos e tamanhos, como bolsos, mangas, golas, frente, trás etc. Eu já vi situações em que o melhor posicionamento das peças na mesa permite economias de mais de 20% no consumo de tecidos e chapas.
A partir das sugestões do Salim, fiz uma análise de cenários para testarmos a sensibilidade do lucro a uma redução nos custos de materiais. Normalmente, em análises de sensibilidade nós alteramos apenas uma variável. Neste caso, foi necessário alterar 2 parâmetros da planilha entre o cenário 1 e o cenário 2, pois o ganho por hora produtiva é uma função do custo da matéria prima. Veja as alterações:
Com essas alterações, em uma empresa com faturamento mensal de R$ 250.000, conseguimos ter um aumento de R$ 4.000 para R$ 29.000 no lucro, ou incríveis 625% de incremento. Confiram no print da planilha na imagem abaixo.
Download grátis da planilha: “Impacto da produtividade no seu lucro”
Convido você a fazer como o querido leitor Salim Rodrigues que trouxe essa riquíssima discussão que estou disponibilizando para todos os leitores do Blog Industrial da Nomus. Quais são as melhorias que você consegue promover na sua indústria? Vamos calcular seus respectivos impactos no lucro e mostrar para os investidores que vale muito a pena investir em gestão?
Olá,
Sobre as ferramentas de otimização, acho relevante comentar que o uso desta tecnologia não está condicionado a necessidade de se utilizar máquinas CNC (laser, routers, jato d’água, etc.).
Os softwares de otimização podem ajudar em processos de corte mais tradicionais como o de cortes retangulares em serras e guilhotinas.
Além dos ganhos na economia de material, existe a otimização do número de cortes que resulta em um menor número de setups. Depois ainda existe a diminuição dos erros e retrabalhos além de evitar a movimentação desnecessária de chapas pela fabrica.
O setor de compras pode ser mais eficiente também, pois consegue simular com antecedência a quantidade exata de chapas para comprar ou então gerenciar o trabalho dos prestadores de serviço de corte.
Igor Kondrasovas