As oportunidades que oferece o processo de desindustrialização no brasil atual


Atualizado em 11/06/24 - Escrito por Autor Convidado na(s) categoria(s): Convidados / Estratégia

Planilha

Por Prof. Félix Alfredo Larrañaga:

A literatura, em geral, afirma que a industrialização do Brasil teria sido provocada por políticas que surgiram como reação à crise de 1929 (Grande Depressão), embora existam evidências de atividades industriais anteriores. Esse processo teria sido iniciado a partir dos anos 1930 e baseado na substituição de importações.

Hoje é de conhecimento público que a indústria brasileira está em franco processo de desindustrialização e essa decadência se observa no Gráfico 1 para o período 1960 a 2023[1], mostrando o crescimento da participação da indústria na geração do PIB até 1984 (34%) e a queda pronunciada posterior até os dias atuais (10%). A participação média no período foi de 20%.

Gráfico 1 – Participação industrial na geração do PIB nacional entre 1960 e 2023

O problema analisado neste texto de opinião está relacionado com a possibilidade de reverter o processo de desindustrialização do Brasil, para o qual foram desenvolvidas esta introdução, a seção seguinte que se ocupa do desenvolvimento e finalmente uma seção com as ideias para tentar resolver o problema, como conclusão.

DESENVOLVIMENTO

A desindustrialização é um processo de redução da participação industrial na geração de riqueza de um país. Segundo Squeff (2012)[2] os principais fatores desse processo seriam o emprego e o valor adicionado pela indústria de transformação nas economias. No seu texto, esse autor afirmava que conforme a literatura da época, as principais causas desse fenômeno teriam sido:

  • Mudanças na composição setorial do valor agregado e do emprego.
  • Diferencial de produtividade em favor da indústria que, com menores preços relativos, perdia participação na geração de riqueza.
  • A terceirização de algumas atividades do processo fabril.
  • Elevada terceirização de produção para os países de baixo custo da mão de obra.
  • Reduzidas taxas de investimento produtivo que diminuíam a participação dos produtos manufaturados na demanda.
  • Mudanças na orientação das políticas econômicas que teriam provocado a redução prematura da participação industrial.
  • O aumento forte das exportações de produtos primários e serviços.

No caso do Brasil, um dos efeitos do processo de desindustrialização foi a redução do número de negócios por diversas causas. Segundo a Revista Oeste[3], o governo federal informou a extinção mais de 2,1 milhões de negócios em 2023, depois da queda e fechamento de mais de 1,7 de empresas no ano anterior.

Nesse grupo, as empresas mais afetadas foram as microempresas e as empresas de pequeno porte. Uma boa parte correspondente a atividade industrial.

A riqueza gerada por um país é medida pela variação anual do produto interno bruto (PIB) que para o Brasil no período 2000 a 2023[4] teve o comportamento indicado no Gráfico 2. Essa variação resulta das variações do consumo das famílias e do estado, dos investimentos e das exportações, descontadas as importações.

Os principais setores que compõem o PIB são a agropecuária, a indústria e os serviços. O gráfico mostra um comportamento ondulante da variação anual do PIB, com um máximo de 7,5% anual em 2010 e mínimos de -3,5% em 2015 e -3,3% em 2016. A média do período foi de 2,3% anual.

Gráfico 2 – Variação anual do PIB do Brasil entre 2000 e 2023 (%)

Portes (2023)[5] afirmou que a idade do parque fabril brasileiro seria de aproximadamente uns 17 anos, idade com a qual estaria longe das novas tecnologias disponíveis na atualidade, afastando-a do ambiente da indústria 4.0. Esse seria um fator favorável à desindustrialização, acompanhado de outras causas apontadas por esse autor:

  • Infraestrutura precária
  • Custo Brasil (Alta carga tributária, burocracia excessiva, juros elevados)
  • Falta de financiamento.
  • Falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
  • Falta de investimento em educação e tecnologia.
  • Lentidão na incorporação de novas tecnologias
  • Mão de obra desqualificada.

Como proposta, Portes sugeriu completar a reforma tributária, estimular o investimento produtivo, capacitar a mão de obra, alterar o ambiente de negócios para um ambiente livre e seguro, incorporar tecnologias e favorecer o investimento através de financiamentos adequados.

O SEBRAE (2024)[6] informou que a pequena e média indústria cresceu mais de 17% em 2023 com referência a 2022 e que a micro e pequenas empresas geraram 80% dos postos de trabalho.

CONCLUSÕES

            Da observação das propostas apresentadas e dos relatórios da Confederação Nacional da Indústria (CNI), identificaram-se oportunidade que indicam e, como consequência, a necessidade de alterar:

  • Ambiente de negócios: para facilitar os negócios e atrair investimentos, mediante a melhora da liberdade econômica, da produtividade do trabalho, do incentivo ao investimento e ao aumento os investimentos públicos e privados em infraestrutura e equipamentos.
  • Ambiente político: provocar, através do voto, a mudança do comportamento político e legal, estimulando as medidas necessárias para completar a reforma tributária, simplificar a burocracia estatal e aumentar os investimentos em pesquisa e tecnologia.
  • Ambiente social: melhorar a educação através de maior qualidade do ensino básico e médio, incorporando cursos de tecnologia, reduzindo o analfabetismo e capacitando a mão de obra industrial.

Neste cenário, ficou em evidência a importância do grupo das micro e pequenas empresas em geral, e das micro e pequenas indústrias, em particular, que foram destaque em 2023 pelo seu crescimento e geração de emprego. Não cabe dúvida que a aumento do número de estes empreendimentos com a incorporação de tecnologias da Indústria 4.0 e mão de obra qualificada oferece oportunidades de crescimento e deverá contribuir fortemente para o desenvolvimento do país.

Referências bibliográficas

BANCO MUNDIAL: https://data.worldbank.org/indicator/NV.IND. MANF.ZS?locations=BR

PORTES, Rodrigo, O processo de desindustrialização no Brasil: causas, impactos e como reverter. https://www.linkedin.com/pulse/o-processo-de-desindustrializa%C3%A7% C3%A 3o-brasil-causas-impactos-portes/

REVISTA OESTE (03/02/2024), Número de empresas fechadas no Brasil aumenta 25% revela o governo federal: https://revistaoeste.com/economia/numero-de-empresas-fechadas-no-brasil-aumenta-25-em-2023-revela-governo-federal/ SQUEFF, Gabriel Coelho, Desindustrialização em debate: Aspectos teóricos e alguns fatos estilizados da economia brasileira. https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5226/1/Radar_n21 _Desindustrializa%c3%a7%c3%a3o.pdf


[1] BANCO MUNDIAL: Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator/NV.IND.MANF.ZS?locations=BR

[2] SQUEFF, Gabriel Coelho, Desindustrialização em debate: Aspectos teóricos e alguns fatos estilizados da economia brasileira. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5226/1/Radar_n21 _Desindustrializa%c3%a7%c3%a3o.pdf

[3] Número de empresas fechadas no Brasil aumenta 25% revela o governo federal. Revista OESTE (03/02/2024)\\: https://revistaoeste.com/economia/numero-de-empresas-fechadas-no-brasil-aumenta-25-em-2023-revela-governo-federal/

[4] Dados disponíveis em: https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.KD.ZG?locations=BR

[5] PORTES, Rodrigo, O processo de desindustrialização no Brasil: causas, impactos e como reverter. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/o-processo-de-desindustrializa%C3%A7% C3%A 3o-brasil-causas-impactos-portes/ . Acessado em: //2024.

[6] SEBRAE. Resultado positivo do PIB 2023. Disponível em: https://agenciasebrae.com.br/economia-e-politica/resultado-positivo-do-pib-de-2023-confirma-a-relevancia-dos-pequenos-negocios/

Sobre o Autor convidado:

Félix Alfredo Larrañaga

  • [email protected]
  • 11 98331-8140
  • Engenheiro Mecânico Aeronautico
  • Mestre em Relações Internacionais
  • Doutor em Política
  • Pós Doutor em Administração
  • Professor do Centro Universitário Sumaré
  • Núcleo de Engenharia
  • Consultor
  • Autor
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